sexta-feira, 23 de março de 2012

A imensidade das dores de Maria



De boa vontade empregamos em nossa linguagem esta grande palavra "imensidade". Raramente ela é justificada pela soma ou pelo peso dos nossos sofrimentos. De fato qual é a dor humana, que em nada se possa atenuar, seja da parte da terra, onde temos e onde sabemos encontrar tantos refúgios, apoios e distrações, seja da parte do céu, tão poderoso para consolar-nos e sempre tão propenso a fazê-lo?

Mas, quando dizemos de Maria que a Sua dor é imensa, é absolutamente e terrivelmente verdade.

"Todos os rios correm ao mar, escreve o Sábio, e o mar nunca transborda".

Compreendei que estes rios são torrentes de angústias, e que este mar, em que tudo se precipita, e que Deus fez tão vasto para receber e conter tudo, é o coração da Virgem imaculada, e tereis aí uma imagem da imensidade da Sua desolação.

É ante o pensamento desta imensidade das dores de Maria que a Igreja exclama, com o profeta Jeremias:

"Ó vos todos que passais pelo caminho, considerai vede se há uma dor semelhante à minha dor! A quem vos hei de comparar, ó filha de Jerusalém? A quem direi que vos assemelhais?... Onde encontrarei alguma coisa igual aos vossos males? O excesso dos vossos males é semelhante a um mar. Quem porá nele um limite?"

É do mesmo modo que os doutores e os santos falaram da grandeza dos sofrimentos de Maria.

Santo Anselmo disse:

"Qualquer que tenha sido a crueldade maquinada contra os mártires, era superficial, ou antes, não era nada, comparada à crueldade da paixão de Maria".
(De excell, Virg. C.V)

Um anjo revelou a Santa Brígida que "se Nosso Senhor não tivesse sustentado miraculosamente Sua Mãe, Ela não teria podido conservar a vida durante o Seu martírio".

Eis o eco de todos os santos e de todos os doutores. Procuremos compreender, por um rápido exame, que de fato foi sim... Donde provém a imensidade das dores da Virgem imaculada?... Provém sobretudo, de quatro causas. Meditemo-las aqui atentamente.

O que nos mostra antes de tudo a imensidade destas dores é que elas ultrapassaram todos os tormentos dos mártires.

Não somente, diz o Pe. Faber (no livro: Aos pés da cruz), nunca houve um único mártir, por prolongadas ou complicadas que tenham sido as suas torturas, que igualasse a Maria em sofrimentos, mas mesmo as angústias de todos os mártires reunidas, com a Sua variedade e intensidade, não se aproximaram da agonia de Sua paixão.

Os mártires sentiram uma consolação inefável em contemplar a Jesus, cuja beleza e glória os fortificavam. O seu espírito estava repleto desta luz divina. A sua agonia era mitigada e contrabalançada, quase metamorfoseada pela consolação interior que experimentavam na sua alma inundada de graça e de amor. Mas onde a visão interior de Maria procurará uma consolação? É preciso que os Seus olhos espirituais lancem os seus olhares lá onde os Seus olhos corporais já estão fixos, isto é, sobre Jesus, e é esta visão que causa a Sua tortura.

Ela vê a Sua natureza humana, e Ela é a Sua Mãe, e Mãe acima de todas as outras mães, amando como nunca outra mãe amara; e muito mais ainda como nunca poderiam amar todas as mães reunidas, se pudéssemos reunir a totalidade dos seus atos de amor, no mais enérgico e mais inexprimível dos atos.

Ele é o Seu Filho!...  que Filho!... e de que modo maravilhoso!...

Ele é o Seu tesouro e o Seu tudo! Que fonte de torturas agudas, vivas, mortais, incomparáveis, havia nesta contemplação! E entretanto, não estava tudo aí, pois havia mais ainda: aí havia a natureza divina do Salvador.

Jesus tinha direito às adorações de todos os homens, e ninguém O via como Maria. Jesus era Deus, e Ele não recebia nenhuma das homenagens devidas à Sua divindade. Ele era Deus, e Maria O via, através da obscuridade do eclipse, coberto de sangue, de escarros, de lama, de chagas repelentes, de contusões lívidas.

Que significava tudo isso sobre uma pessoa divina?...

É inútil indagar um nome para uma dor, como a que submergia a alma de Maria Santíssima. Jesus,  a alegria dos mártires, aqui é como o algoz de Sua Mãe! Nenhum martírio foi igual àquele e não lhe podemos atribuir outro nome que o de "imensidade de dores", a "dor incompreensível".

Em segundo lugar, os sofrimentos da Santíssima Virgem podem ser chamados imensos, em relação às Suas proporções com as Suas outras qualidades, isto é, que se depois de Jesus e para Jesus Ela tivesse que ter a preeminência de dor, os Seus sofrimentos deviam ser proporcionados à Sua dignidade, à Sua santidade e às Suas luzes.

Dores proporcionadas à Sua dignidade, e Ela era Mãe de Deus. Dignidade tal, diz São Tomás, que a própria Onipotência não teria podido imaginar uma grandeza mais elevada. É dizer que era impossível imaginar uma dor maior do que a da Mãe de Deus!

Dores proporcionadas também à Sua santidade. As provações dos santos são sempre medidas sobre a sua força e a sua capacidade de sofrer, e análogas aos seus méritos, que elas igualam, e aos quais se ligam de um modo particular.

Ora, quem dirá a santidade e os méritos de Maria?...

Questão insolúvel, falta de algarismos, dissemos precedentemente.

Mas, se esta santidade não é absolutamente ilimitada (e é a menor coisa que dEla se possa dizer), não sabemos ao menos que enorme fardo de sofrimento exigia uma tal santidade para alcançar o Seu nível e fecundá-la, amadurecê-la, acrescê-la e coroá-la, por uma outra imensidade - a imensidade da dor.

Dores proporcionadas, enfim, às Suas luzes.

O conhecimento aguça sempre mais a dor, e a sensibilidade aumenta a sua violência. Ora, todo o ser da Santíssima Virgem estava repleto de luz. Não só uma razão e uma inteligência de perfeição extrema resplandeciam em todas as Suas faculdades, mas a Sua vida interior se passava no seio de uma atmosfera sobrenatural, toda de luz.

Nas Suas dores inenarráveis, este conhecimento que A esclarecia era uma tortura terrível.

Podemos bem dizer que ninguém, exceto o Salvador, compreendeu perfeitamente a paixão, nem pode avaliar e agrupar todos os horrores no que ele tem de mais hediondo; ao menos a compreensão que delas teve Maria é a única que se aproximou da que tinha o Seu Filho.

Assim, pois, ainda que, a extensão das dores da Santíssima Virgem nos escapa, porque não podemos medir a extensão das luzes sobrenaturais a que elas eram proporcionadas e com as quais cresciam talvez simultâneamente.

As dores de Maria são ainda por causa da sua multidão.

Cada olhar, cada palavra ou ação de Jesus causava à doce Virgem, uma superabundância de sofrimentos nos quais o passado e o futuro se confundiam em uma visão única, mas terrível, sempre presente à Sua alma.

E se, por causa da sua multiplicidade, não podemos contar todas as aflições da Santíssima Virgem, ao menos qual não foi a sua violência, quando todas se concentraram como que sobre um ponto único e culminante, donde se espalharam a cada momento e de todos os lados sobre a Sua alma, com uma tal diversidade de sofrimentos que não poderíamos imaginar?...

Maria pôde dizer com justiça:

"A minha amargura é a mais amarga de todas as amarguras".

Há também um outro ponto de vista, sob o qual as dores de Maria foram verdadeiramente imensa: - é a superioridade a tudo o que a força humana pode suportar. De fato, elas ultrapassaram em energia ao mais robusto homem.

É opinião unânime dos autores, apoiada sobre as revelações dos santos, que Maria conservou a vida por milagre sob o peso dos Seus intoleráveis sofrimentos. A previsão que Ela teve das Suas dores foi tão viva, que, sem um socorro particular de Deus, Ela não teria podido viver sob um aguilhão tão cruel.

Não vemos, algumas vezes, pais ou mães que morreram de desgosto?... Na expressão de nossas dores de ordinário há algum exagero e a imaginação as aumenta. Mas nos sofrimentos de Maria tudo era verdadeiro e real. Elas eram avivadas pela perfeição superior da Sua natureza, pela Sua graça superabundante, pela beleza perfeita, e, sobretudo, pela divindade de Jesus.

Deste modo, cada uma das Suas dores era perfeitamente aceita, quer na sua intensidade, quer na sua extensão, quer na sua duração. Sua natureza física, isenta dos estragos do pecado, estava repleta da mais enérgica vitalidade, dotada da mais terna e viva sensibilidade; por conseguinte, era de uma capacidade única para sofrer.

Logo, nada houve em Maria, quer na Sua razão, quer nos Seus sentimentos, que pudesse amortecer um só dos golpes que Ela recebia.

Esta realidade das dores de Maria, é na verdade muito extraordinária, e foi preciso o coração de um Deus, para permitir que a Sua Mãe sofresse tanto pela nossa salvação. E nós correspondemos às vezes tão mal e tão covardemente às ternuras que tantas dores nos revelam.

Até quando seremos ingratos?... E quando, enfim, misturaremos algumas lágrimas de compunção à torrente de dores de nossa Mãe?...

(Por que amo Maria, pelo Pe. Júlio Maria, continua com o post: As razões das dores de Maria)

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